segunda-feira, 17 de agosto de 2009

OITO

Lá fui eu pra faculdade que resolvi cursar depois de velha. No caminho comprei a Quem. Graças à Deus, me toquei a tempo que não era de bom tom entrar numa faculdade de artes com uma revista de celebridades na mão. E enfiei a bicha na bolsa. Cheguei na sala lotada, atrasada como sempre e fiquei em pé olhando. A professora falou: "Você está procurando lugar pra sentar? Não tem".
Na verdade, estava procurando o ar condicionado, que também não tem. Porém sentar me pareceu uma boa idéia. Aceitei a sugestão e saí procurando uma carteira pela faculdade a fora. Que ótimo. Entrei numa sala, expliquei a situação e perguntei se não tinha pra canhoto. Pergunta que pra mim faz muito sentido. Mas numa faculdade pública, desconfio que fiz papel de maluca. Digo isso, pela cara lá do responsável.
Voltei pra sala lotadíssima e não entendi. No segundo semestre, só abriram 10 vagas. Da onde saiu esse povo todo? Pelo que percebi, parece que todos os alunos da faculdade fazem essa aula, incluindo aí os repetentes e, se duvidar, alguém da Medicina.
Então lá estava eu, no lugar que consegui quase fora da sala, quando entra uma galera do C.A. Centro Acadêmico. Que preguiça. O pessoal do C.A. disse coisas muito úteis e agradáveis. Entre elas, que os bebedouros estão desligados por causa da gripe suína. Mas de qualquer forma não tem filtro neles. E a água dos bebedouros é a mesma da privada. Muito legal. Também foi dito que tinha ratazana na cozinha do refeitório.
Aí eu parei de prestar atenção, porque não tenho mesmo esse hábito de comer. Aqui e alí, ouvi um papo sobre não jogar papel no chão e evitar pegar o elevador. Não saquei direito, parece que tem que economizar energia na faculdade. Sou super a favor de qualquer medida que me mantenha magra, lógico. Só que sempre pensei que a conta de luz das faculdades do Brasil, estavam incluídas nos impostos que a gente paga. Moro no alto de uma montanha, desço e subo todo dia a pé. O "Climb Every Mountain" é tão brabo que chega a entupir o ouvido. Mesmo assim, querem que eu chegue na faculdade e ainda suba a escada até o quarto andar? Minhas aulas são do quarto andar pra cima e tenho asma. Não sei se vai dar certo isso não... Eu não ví enfermaria com nebulizador lá.
Também foi citado um panelaço que costumam fazer sei lá pra que. Tudo bem que sou argentina, mas existe um limite. Eu não saio por aí pedindo pra brasileiro sambar. Então por favor, não me peçam pra bater panela que é muito clichê. Só se for por um ar condicionado. Por falar em clichê, depois que o pessoal do Centro Acadêmico foi embora, fiquei esperando o Wladimir Palmeira chegar. Juro que era pra ser uma piada, mas não é que vai mesmo ter um encontro com ele? Estava escrito no mural. Eu vou. Quero saber como faz pra conseguir um split.

Quando acabou a aula, já levantei com a carteira na mão pra levar pra outra sala. Viu como eu pego rápido as coisas? Daqui a pouco começo a trazer a carteira de casa de preferência a pra canhoto.
Estava no meio do caminho quando descubro que:
A) Não vai ter mais aula (oba.)
B) Vai ter trote.
-Sylvia você não vai participar do trote? Me perguntou uma veterana mais nova que eu, pintada de cacique.
-Não.
-Sylvia você não quer confraternizar?
- Não.
Amore, eu vim aqui pra estudar. Isso aqui pra mim é trabalho. Se eu estivesse afim de pedir esmola no sinal, não precisava ter feito vestibular. Ok. Fui ao banheiro, lá chegando dei de cara com: falta de sabonete e um papel higiênico reciclado, cheio de buracos, igual a um pedaço de renda portuguesa. Ave Maria, estou frequentando um Ciep.

Somando essa cena, com meu inconformismo diante da falta de ar condicionado... Desde a primeira série, nunca frequentei uma instituição de ensino sem ar. Essa falta não entra na minha cabeça. Eu levei casaco na bolsa. Sala de aula e ar condicionado até hoje pra mim eram uma fórmula matemática. Lá não tem nem ventilador!
No total, o resultado da soma foi: será que ainda dá tempo de fazer matrícula numa faculdade particular?
Pra piorar tenho aula de folclore brasileiro. Mula sem cabeça não rola. Nesse dia o Ipod vai gritar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

SETE

O carteiro do meu prédio é um sujeito muito revoltado. Ele vem entregar as cartas pensando: "Cambada de filho da puta, que não usa débito automático e recebe correspondência a essa altura do campeonato. Não conhecem a internet, porra?"
Coitadinho, o cara pensou que fosse poder curtir o emprego público dele em paz. Mas não! Tem que colocar aquela roupinha, subir ladeira e fazer a entrega. Ele nem se dá ao trabalho de passar o pacote, amarrado com um barbante, por baixo do portão. Deixa do lado de fora do prédio mesmo. Literalmente na calçada e de preferência na chuva.
Outro dia, eu vi. Uma vizinha recebeu um cartão postal. Sabe aquela parada retangular, com uma foto de um lado, espaço pra um selo e o endereço do destinatário no outro? Com três linhas aonde as pessoas escrevem assim: "Nova York é o máximo! Estamos nos divertindo muito sem você! Morra de inveja, beijos!" Juro por Deus. Nesse dia o carteiro deve ter se desesperado. Até eu me assustei.
Antigamente, a gente ia passar uma semana na Disney pela Grantur, mesmo assim comprava um monte de cartão, escrevia três linhas e saía mandando pra galera. Hoje em dia, ainda bem que existe o Orkut. A pessoa pega a pouca grana que tem, paga uma fortuna num cyber, descarrega as 384 fotos da máquina e pronto. Já resolveu o problema do exibicionismo. Como time is money, não dá tempo de selecionar as fotos e a pessoa nem sabe direito o que está enviando. O que é ótimo. Orkut de mais de 300 fotos, Sylvia recomenda. Sempre tem alguma merda que passou despercebida.

Para não dizer que não falei de flores, nem de nenhuma futilidade, já perdi 2.400 dos 5 quilos que pretendo emagrecer. Por causa disso, achei que podia usar uma calça skinny numa pré estréia que fui. No maldito cinema, tinha um espelho enorme e eu aproveitei pra fazer o que devia ter feito em casa. Olhar pra trás. Jesus! A minha bunda estava enorme naquela calça. Quase morri de vergonha. Pensei seriamente em ir pra casa. Mas eu queria ver o filme, então me encostei na parede mais próxima enquanto não começava a sessão. Depois do filme tinha uma festa que eu não sabia. Bateu aquela dúvida terrível... Será que eu vou? Com essa bunda enorme? Aí me lembrei, que graças à Deus a gente sempre pode contar com a cafonice do brasileiro nessas horas. Portanto, eu não ia ferir o senso estético de ninguém além do meu.