sexta-feira, 23 de outubro de 2009

QUATORZE

Rio de Janeiro, Laranjeiras, Urca, Gávea e Leblon. Em Laranjeiras moro, na Urca estudo, na Gávea e no Leblon, me divirto. É verdade, que com mil trabalhos pra entregar na faculdade, projetos pra tocar e mil textos (também da faculdade) pra ler, tá difícil a diversão ultimamente.

Veja você, que trabalhar não faz parte de minha longa lista de atividades. Não por culpa minha é claro, são os empregadores que ainda não enxergaram minha competência. Pior pra eles, que fazem questão de se cercar de gente desinteressante e sem as minha credenciais e pior pra mim que sigo pela vida lisa, sem grana, mas sempre com muito glamour é claro. Ok, já não bastasse tanta atividade e a dificuldade de conciliá-las, ainda tenho e-mails para responder e muita culpa pesando os ombros. Talvez por isso, esteja mergulhada numa crise de insônia e graças a ela, arrumei mais uma sarna pra me coçar. Resolvi ler Ulisses. Parênteses: se tem alguém aí que não sabe que é do James Joyce, ficou sabendo agora.

Então temos mil trabalhos, projetos pra tocar (tenho que inventar um jeito de ganhar algum dinheiro né?), mil textos pra ler e um dia de 852 páginas pra completar. Adonai me ajude! 852 páginas não são nada. Hoje em dia qualquer Harry Potter tem isso, mas haja atividade num dia só, heim. Só sei que já estou a dois dias no dia 16 de junho de 1904 e nada do Jack Bauer, ops do Leopold Bloom, o Ulisses para os desatualizados. Até agora só apareceu o tal do Stephen Dedalus, que representa o Telêmaco e eu saberia quem é se tivesse lido a Odisséia. Mas parei na Ilída, de modo que realmente tá difícil entender porque tantas páginas desse Stephen. Pelo visto, vou passar um bom tempo em Dublin, 16 de junho e bem pouco na Gávea e no Leblon. A menos é claro que Viver a Vida conte como diversão e Leblon.
Mas já que eu estava falando em alguém que vive uma odisséia em 24 horas, não posso deixar de me lembrar do Jack Bauer. Como será que ele está? Anda lendo 24 horas, ops Ulisses também? Segundo Antônio Houaiss, estou nas 11 horas da manhã de um dia que começou às 8hs. Vai ser uma longa jornada noite a dentro, já dizia O'Neill.

Enquanto isso, meu gato sumiu e depois de perder horas do meu escasso tempo procurando, without a trace, pela rua com uma foto na mão igual mãe de desaparecido, achei ele dentro de casa, trancado no banheiro de empregada. Francamente Simonal. Com tantas interrupções e afazeres, parece mesmo que vou passar um longo tempo em 16 de junho de 1904.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

TREZE

Outro dia estava linda e loira me acabando de dançar, quando fui ao banheiro, olhei no espelho e enjoei desse cabelo preto. Sylvia pensei: esse look já deu. Foi então que decidi cometer suicídio capilar. Descolori e depois joguei outra tinta por cima. Conseguí clarear 3 tons passando de preto pra chocolate, e com paciência no mês que vem, se Deus quiser volto ao tom natural ou fico careca tentando. As consequências do suicídio capilar são muitas, a principal é o ressecamento que grita. Mas tenho feito muita hidratação, e amanhã já encaro uma chapinha.

Passei o feriado me tratando, eu estava um lixo, coitadinha. Fiz pé, mão, passei blondor no braço, na coxa, raspei a perna e marquei a depilação da virilha. Também fiz hidratação no cabelo e estudei. Mesmo assim ainda faltam umas 40 páginas, como sempre de antropologia. Jesus! Não vou colocar isso em dia nunca. Ai minha vida social... Que falta sinto dela. Ou pelo menos de um romance. Romance pra ler e pra viver também. Porque na vida real, só tenho visto romance em Californication. Não é bem romance que eu vejo lá, mas uma moça não comenta.
Tudo culpa da minha incapacidade de dormir e acordar cedo. Seria tudo mais fácil se eu dormisse menos. Chegaria da aula, leria o que eu tenho que ler, me manteria arrumadinha, teria tempo pra saír no fim de semana. E a vida poderia até me acontecer. Mas como durmo até o último minuto e chego com sono, nunca leio nada durante a semana. Preciso resolver essa questão.

Não é só comigo que isso acontece. Outro dia, um colega, chegou super atrasado na aula, e com o uniforme do colégio. Comecei a rir muito. Imaginei o menino, que acordou sequelado e esqueceu que acabou o segundo grau. Vestiu o uniforme e saiu por aí. Foi bater no colégio, lá lhe informaram que ele já estava na faculdade. Correu pra Urca e enfim chegou. Basicamente é isso que eu faço na aula de antropologia viajo em cima das coisas que eu vejo. Pior é que até que essa aula melhorou muito depois que o Roberto da Matta entrou em cena, mas não adianta o sono sempre é muito e a dificuldade de concentração idem.

Por falar em Viver a Vida, tenho visto muito. Um saco a Helena falar com todos os ésses e érres, mas Ok. Como diz um amigo, em novela do Manoel Carlos todo mundo é bonito e rico. Por isso a gente acaba vendo, não tem jeito. Outro dia estava reclamando que não tinha argentino em Búzios, mas já apareceu um lá. Patrão de não sei quem. Mesmo assim não é o suficiente. Quando vão acabar com esse preconceito e instituir um núcleo argentino em uma novela das Oito? Tem novela com núcleo marroquino, indiano, italiano. Argentino nunca. Durante quase um mês, foi ao ar uma novela com núcleo em Búzios e sem nenhum argentino. Só agora apareceu um (!). Mesmo assim é muito pouco. Afinal parte da novela é em Búzios. Por falar nisso, em que bairro de Búzios moram aqueles pobres da sorveteria? Deve ser na fronteira com Cabo Frio bem bem longe da Rua das Pedras.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

DOZE

Antigamente as pessoas eram mal educadas e pretenciosas. Mas pelo menos se interessavam pelo trabalho dos outros, e liam. Hoje em dia as pessoas são mal educadas, pretenciosas, iletradas e fechadas no seu mundinho. Quer dizer que só se interessam pelo trabalho do pessoal da sua turma. E como são iletradas, elegem como deus, alguém que estudou um pouco mais e reciclou as idéias dos outros.

A arte virou um caô só. Fico pasma com isso, principalmente porque quanto mais eu leio, menos dou valor ao que penso, menos me acho genial. Eu leio e penso: "putz, nunca vou fazer melhor. Vou desistir" As palavras dos outros me inspiram a desistir. Por isso chego a admirar quem consegue copiar ou reciclar alguma idéia e pronto, estar moda.

Aqui no Rio de Janeiro é muito importante isso, estar na moda, ser quente. É isso que faz alguém prestar atenção no seu trabalho, não o contrário. Porque se não te respeitam socialmente, não vão perder tempo em saber qual é a tua. Existe também a lei do fazer carreira em festa. Não tenho esse talento. geralmente numa festa, só me preocupo em não beber demais e quebrar o dente. Acaba não dando tempo para um lob básico, principalmente se a música for boa.

Também me preocupo em não ser uma pessoa magoada, isso é importante. Cada um tem o seu caminho e, vamos lá. Por isso fui estudar. Estudando e fazendo carreira acadêmica, não precisarei me preocupar em fazer sucesso socialmente pra trabalhar, nem em ter amigos da moda, essas coisas. Eu estudo pra poder ser quem eu sou, falar o que eu penso, não depender de ninguém. Bom, tem o pessoal que paga as minha contas, mas não quero pensar nisso agora.

Infelizmente, a sensibilidade é algo que não me governa, por isso por mais que eu tente, não consigo dizer coisas sensíveis. Mas não sou agressiva. Detesto gente que te alfineta a toa. Esse pessoal da agressividade gratuita, sabe? Nessas ocasiões eu me fecho. Não por falta de resposta, mas por preguiça de aguentar a consequência da resposta que pensei. Porque nunca sou sutil. Como bater boca é um saco e geralmente demora muito, acho melhor calar.

Outro dia, pensei que estava bem. Tava com uns amigos falando besteira todo mundo rindo. Até que uma moça resolveu tentar me agredir a troco de nada. Pelo menos foi o que ela achou que estava fazendo. Não entendi muito bem. Eu perguntei onde era o banheiro, e ela me mandou ir num lugar que não era. E daí? Não sei por quê, quando voltei tava todo mundo rindo. Que bobagem, o que é que tem demais isso? Andar emagrece.

Na volta pra casa, tentei entender a graça em tentar fazer uma pessoa de palhaço a essa altura do campeonato. Já que o ginásio acabou faz tempo. Vamos analisar a minha ida ao banheiro. Eu estava conversando, perguntei onde era o banheiro e uma moça nada genial me disse que era num lugar errado. Ok. Pensei, bom estava todo mundo se divertindo, ela não tinha senso de humor, resolveu chamar atenção pra sí da maneira clássica, sacaneando alguém. Isso serve pra muita coisa hoje em dia, até na arte andam fazendo as pessoas de palhaço. Quem não tem talento faz isso com o público.

É também isso que as pessoas fazem quando se sentem ameaçadas com a inteligência alheia. Eu não me sinto nunca assim. Primeiro porque estou longe de ser um gênio, graças à Deus. Segundo porque inteligência, eu quero é sugar, ser pentelha perguntar. Terceiro porque, se por um acaso eu achar que devo fazer alguma coisa pra chamar atenção, então posso considerar que a inteligência alheia me inspira. Mas eu não gosto desse tipo de competição. Quando eu vejo alguém brilhando, eu observo. E se for caô, eu vejo até onde vai, adoro observar isso. Se for talento, eu babo mesmo.