terça-feira, 26 de janeiro de 2010

VINTE

Quantas vezes preciso repetir que odeio Sex and The City? Argh!
- Sylvia por que isso? Todo mundo adora.
Todo mundo? Todo mundo sem noção! Hoje eu estou de mau humor, não me venha falar dessas desocupadas, não tenho saco pra elas. Mulherada chata. Elas e todas as mulheres do mundo (menos eu), com essa mania insuportável de ficar criando teorias loucas pra explicar o comportamento dos homens.
Odeio isso. Odeio essa perda de tempo. Acho um absurdo criarem um seriado inteiro só pra essa droga.
É o seguinte: na vida a gente tem que ter discernimento. Não pode ficar mascarando as coisas por vaidade, problema de ego.
Não é que ele está ocupado. Não é que ele não quer se envolver agora, não é porque ele tem medo de você, não é qualquer desculpa idiota que você inventar e seus amigos apoiaram, querida. É fácil. A resposta é: ele não gosta de você.
Pronto acabou, sem drama. Olha que maravilha, que conclusão libertadora. Se você admitir isso acaba a angústia. Não espere o telefone tocar, porque não vai. Ele não gosta de você. Concluir isso liberta. Vai por mim.

Particulamente não sou fâ de livros de auto ajuda, acho ridículo, mas aquele Ele Simplesmente Não Está Afim de Você é otimo, graças a ele não faço mais papel de antipática perante minhas amigas. Agora eu tenho base pra apoiar minhas conclusões pessimistas. Antes desse livro eu passava por antipática. Agora a amiga conta a história, eu ouço e falo: olha, vou te mandar o arquivo de um livro por e-mail.
Não tenho muito saco pra amiga mulher, justamente por isso, sempre tem uma história enorme pra contar de algum cara e a gente nem precisa ouvir, pra saber que se tem história o cara não gosta dela. Relacionamento é fácil, quem gosta de você, quem te quer está do seu lado, te procura. O resto é gente louca.
- Mas Sylvia, se ele não gosta de mim, por que me procura, me chama pra sair?
- Não sei minha filha, não sou psiquiatra.
- Sylvia, tudo bem, ele não gosta de mim. Mas eu não posso conquistá-lo?
- Poder pode. Você tem saco? Eu não. Morro de preguiça. Tenho muita coisa pra fazer, não vou perder meu tempo conquistando alguém. Me poupe. Depois tem que valer a pena o investimento. Tem que mudar a minha vida e pra mudar a minha vida nem adianta ser rico. Tem que ser rico e generoso, investir em mim. Aí pode ser que eu pense um pouco, me dê ao trabalho. Senão tchau. Vou trabalhar em algo útil.

Outro dia uma amiga estava numa festa, um monte de gente e ela me mostrando e-mail no celular. Into The Grove da Madonna gritando na pista de dança e eu lendo aquele negócio enorme. O que posso fazer? Sou educada. Nem precisava ler pra dar o veredicto: ele não gostava dela.
- Ele tá aqui? Então minha filha desencana. Outro assunto.
Não me venha com dúvidas, não alimente o abstrato. Exercício do concreto. Antônio Abujamra, João Cabral de Melo Neto. Se liga no concreto. Esquece o astral, a metafísica, a energia, o I Ching, a porra da astrologia. Pensa na ciência, na matemática, na lógica. Ser ou não ser eis a questão? Puta perda de tempo. O sujeito fica horas sofrendo em dúvidas, em angústias, perde cinco atos e morre no final. É isso que você quer pra você? Heiner Muller. Resolva essa questão pelo amor de Deus. Vamos resolver essa questão!
Fica a mulherada alimentando drama, interpretando cada passo sem sentido que um sujeito pode dar na vida, arrumando um significado que seja conveniente a ela. Sex and The City era só isso. Nossa mãe! Vai lavar um tanque de roupa, fazer uma faxina, trabalha essa energia e não enche meu saco.

Nunca entendi qual é o problema em ser uma pessoa pessimista. Afinal pra que esperança? Não tenho a menor paciência pra esperança. Se você levar a sua vida partindo do princípio que nada vai dar certo, você não se decepciona. Tudo o que vier é lucro. As pessoas com poucas decepções são as mais felizes e as mais tranquilas. Não tem angústias. E pra isso acontecer, você ter poucas decepções na vida, ou você tem sorte (outra palavra horrivel, pra lista das banidas) ou não perde tempo com esperança, expectativa. Acredita no trabalho. Foca no trabalho.
Não na sorte, nesse negócio destino. Não pense nisso não. Vamos ser científicos. Nos apoiar na lógica. Observe os fatos, siga a lógica do raciocínio. Não tente se enganar. E pronto. Você vai ser feliz. Ou pelo menos ter poucas angústias.

domingo, 17 de janeiro de 2010

DEZENOVE

Sempre quis conhecer o programador musical das Lojas Americanas. Impressionante a noção de marketing desse sujeito. O cara faz tudo que pode para afugentar clientes. Dia desses, estava tomando banho, quando reparei que o shampoo já estava na metade. O hidratante perigava e o desodorante ia por um triz. Passeando depois pela rua, me lembrei daquela imagem e entrei nas Lojas Americanas. Eis que meus ouvidos são rapidamente tomados pela voz da Ana Carolina aos berros. Saí correndo nem cheguei a entrar. Uns dias depois resolvi tentar de novo. Entrei na loja, quando me aproximava da seção (seria de limpeza?), um samba enredo começou a tocar altíssimo como é de praxe lá e eu pensei: calma que ainda tem as coisas em casa. Fica pra próxima.

Finalmente não deu mais, ou eu enfrentava as Americanas ou ficava sem desodorante. Respirei fundo e entrei. Padre Marcelo Rossi. Corrí pra pegar meus produtos habituais, sem nem cogitar dar uma olhada em outras marcas, experimentar um shampoo novo, olhar uma promoção de hidratante, ou qualquer coisa que levasse tempo. Pelo menos o Padre Marcelo não estava no máximo como nas outras vezes e foi isso que me segurou na fila do caixa. Sylvia Molise, eu disse, aguente firme. Você está bem. Lá eu decobrí que nem era um cd, mas sim o novo dvd do Padre que estava rolando. E ainda tive o prazer de ver as imagens, alí no curral da fila. Todas as imagens. Muito bom.

Me lembrei de um Natal em que fiquei quase duas horas, ou assim me pareceu, numa fila na mesma Lojas Americanas, espremida entre uma gôndola de doces e outra de cds a R$9,99 cada. Nesse dia comprei um dos meus cds preferidos. Série Millennium Sidney Magal e quase (até hoje não sei se me arrependo ou não) levei um do Fábio Junior. Eu pegava, olhava as músicas, só sucesso. Aí eu pensava e falava não... E colocava o cd na gôndola, andava um pouquinho a fila e eu pensava de novo: Mas Sylvia, só R$9,99... Pegava o cd, olhava bem, cantarolava as músicas e colocava o cd no carrinho. Pensava e devolvia o cd pra gôndola. Acho que estaria assim até hoje se não tivesse chegado a minha vez no caixa justamente num momento em que o cd não estava mais no carrinho. As vezes penso que devia ter comprado esse cd. Acho que vou voltar lá pra olhar... Tudo depende é claro da trilha sonora espanta cliente.

Nossa mãe que calor! Aqui no Rio outro dia fez 49 graus. Um négocio de louco. Meus gatos andam com um comportamento estranhíssimo. Um se mudou de mala e cuia pra banheira, estou pensando em mudar o nome dele pra Rebordosa, a personagem do Angeli. O outro, dia desses invadiu meu banho e se jogou debaixo do chuveiro aberto. Quando um gato toma uma decisão radical dessa é porque tá brabo. E olha que aqui em O.C. o clima é bem ameno. Moro no alto, tem floresta atrás do prédio e até outro dia dormia de colcha no verão. Ai que saudade do tempo em que O.C. era um oásis climatizado no verão do Rio. Hoje em dia nem O.C. escapa. Orange County, Laranjeiras para os desatualizados. Estou começando a ficar com medo. Se esse calor continuar o resto da minha vida vai ficar complicado. Vou ter que me mudar do Brasil. Mesmo as pessoas me dizendo que não sei aonde está menos zero. E daí? Melhor o frio, calor é anti higiênico, como diz uma amiga minha. E pensar que lá no fim dos anos 60 achavam que o James Lovelock era um hippie maluco. Aquecimento global, eu acredito James. Você tinha razão. Ok. Já resolvemos essa dúvida, alguém tá pensando na solução?

domingo, 10 de janeiro de 2010

DEZOITO

- Sylvia essa sua fixação por rapadura, deve ser falta de potássio. Assim me disse uma amiga.
O fato é que nos últimos meses eu comi fanaticamente uns quadradinhos mínimos de açúcar mascavo prensado na maior cara de pau e intitulado "rapadura", by Mundo Verde. Até que essa mesma amiga salvou a pátria e interrompeu meu já tradicional regime pós festas, me presenteando com uma legítima rapadura trazida do Nordeste. Não tive dúvidas, já que estava de regime, comí logo 300 gramas de rapadura. Se é pra sair do regime, vamos resolver logo isso num dia. Imagine ficar meses comendo um pedacinho por vez, saindo do regime todo dia? Não dá. Foi a melhor solução. Tenho baixa glicose, por isso, não tive nenhum efeito colateral. Teoricamente, por causa da baixa glicose, não poderia ingerir nenhum alimento light. Imagine só que absurdo. O que são uns desmaios e umas vertigenzinhas perto da gordura eterna, do iogurte normal, do Mojito com açúcar? Deus me livre, coloca adoçante please.

Se tem uma coisa que aprendi a controlar na vida foi a tontura e vontade de desmaiar. Houve tempo que tinha esse hábito de desmaiar por aí. Mas com a idade comecei a achar isso muito Belle Époque. Passei a segurar melhor a onda. Hoje em dia respiro fundo, dou uma sentadinha discreta coloco um Tic-Tac na boca. Num caso extremo uma Halls normal.
Graças à vertigem fiz umas compras equivocadas essa semana. Fui resolver umas coisas burocráticas na rua e me vi, em pleno Shopping Leblon. Aproveitei e entrei na liquidação da Zara, que estava otima. Tão boa que eu precisava comprar alguma coisa. Não sei se era o cansaço, a falta de almoço, o calor... Sei que nada me apetecia. Com o passar do tempo e depois de muito experimentar. Quase desisti. Mas o ar condicionado forte da loja começou a fazer efeito. Passei a sentir um frio brutal, veio a vertigem, não tinha bala na bolsa e quis sair logo dali. Mas Sylvia não é mulher de desistir fácil, portanto, fiz a compra mais razoável e de acordo com as condições climáticas do meu corpo. Três casacos. Um vesti logo ali. Claro que foi só sair da loja pra compreender o erro brutal dessa compra, mas é daí?

Ainda sobre o efeito da baixa glicose, me lembrei que queria comprar um romance, não tinha nada pra ler em casa. Lá fui eu morta, sem conseguir pensar direito, resolver isso. Tantas escolhas, muitas opções... Esqueci o que eu queria ler, só pensava em pegar um livro, ir pra casa, tomar banho, me deitar, ler e coçar o gato. Essa imagem surgiu tão atraente na minha cabeça, que foi impossível não comprar nenhum livro. Afinal eu precisava ir pra minha cama fria, com um livro e um gato pra coçar. Por isso me decidi por O Diabo Veste Prada. Eu sei.
Além do fato de não ser nenhum Dostoievski e puxa queria ler O Idiota. Já vi o filme várias vezes, sei o final. O que se há de fazer? Li as 407 páginas em duas madrugadas. E agora estou exausta e improdutiva. Não, não estou de férias. Tenho muita coisa pra fazer.