segunda-feira, 27 de julho de 2009

SEIS

Vem cá gente, o milagre econômico não foi na ditadura militar? Como, diabos, tem tanta gente por ai desfilando com sapato Louboutin? Andará a mulherada pintando de vermelho a sola do sapato Paquetá?

Outro dia estava desocupada como sempre, então fui visitar meu amigo Saint Laurent. Estava tudo indo muito bem até que, dou de cara com uma intervenção que a galera da exposição fez num modelito YSL. Era um top estilo faixa feito com sementes. Para prender a peça no manequim, o povo que montou a exposição acrescentou um par de alças de silicone ao top. Jesus! Eu só não morri porque tinha um compromisso. Coitadinho do Yves lá no Père-Lachaise (aonde imagino que esteja enterrado), se revirando no túmulo.
Além de assassinarem o modelito, no caso um Saint Laurent, olha que perigo: a mulherada dá de cara com aquilo e comenta: " Tá vendo Adalgisa, falam que a gente não pode usar alça de silicone, olha ai o Saint Laurent". Francamente. Haute Couture é mais que bom gosto, tem a ver com classe.

Por falar em CCBB, Centro Cultural Banco do Brasil, para os desatualizados. Não é por nada não, mas tinha que ter um horário separado para as excursões de colégio. Primeiro, se eu quisesse frequentar museu com criança, tinha filho. Segundo que fica difícil admirar o Kandínski e o Chagall, com um monte de adolescente gritando: "Caraca! Um monte de rabisco! Olha aquele, feio pra caraca!". Enquanto isso, meu celular toca e o segurança se materializa instantaneamente do meu lado. Me poupe. No meu universo, a gente sabe que não se fala ao celular em museu, mas dá pra esperar eu avisar que ligo depois? E por que o senhor não manda essa rapaziada parar de gritar? Um monte de caraca, incomoda tanto quanto um toque de celular.

Estou de regime, e como vocês podem ver de excelente humor. Faz sete dias que não como jujuba, Twix e Charge. Tirar esses elementos da minha vida é extremamente danoso. Principalmente pra quem tem que me aturar. É sempre assim, arrumo um namorado, engordo cinco quilos. Termino e vou direto pro medico, que diz: "Tudo bem Sylvia? Veio preparar o corpinho para o próximo?" Não querido, vim pra ficar bem comigo mesma. Arre!
Essa semana recebi uma locomotiva social de frente, um misto de instabilidade emocional com despedida. Se tem uma coisa que eu aprendí na vida, é que a melhor maneira de seguir uma dieta é ficar em casa. Continuar solteira também ajuda, mas... Bom, vamos ver quantos dias eu aguento sem ir a uma festa.

domingo, 19 de julho de 2009

CINCO

Minha última. Fui ao show de um amigo, que canta samba e MPB, na Lapa. Enfim, vestí uma calça, um All Star, uma camiseta que gosto, uma jaqueta preta que sempre uso e pronto. Tudo muito simplesinho. Chego lá, o povo de sandália de couro está me olhando estranho. Estou curtindo o show. Sabe como é, esses lances de folclore tipo samba, a gente acaba assimilando. Todo mundo tem um repertório lá no fundo do HD interno.

Mas lá estou eu e o povo realmente me olhando estranho. Já não tem como ignorar. Uma amiga me dá o toque: "Sylvia olha pra sua roupa". Hummm... Estou vestindo uma calça preta, um All Star black, uma camiseta dos Ramones e na jaqueta está escrito Cavallera Forever Punk. Cruzes, o coió gritou. Nem quero pensar no que aconteceria se estivesse vestindo Herchcovitch.
Tenha paciência, a gente não pode nem se distrair? Que povo preconceituoso, agora eu tenho que andar vestida à caráter? Visto o que me dá na telha, eu heim!
O figurino é importante, sempre soube disso. Mas também sempre ouví falar que o povo democrático que frequenta alguns lugares da Lapa não liga pra isso. Vestem qualquer coisa contando que não seja diferente, que não fuja do padrão sandália e bata. Me disseram que esse povo não liga pra futilidades e tampouco faz carão. Imagina se um punk, um rocker, cluber, emo (aqui no Rio não tem disso não), drag queen ou qualquer outra turma extravagante, não uso o termo tribo, porque tribo pra mim é Tupinambá, Aimoré aquela galera que é tema do José de Alencar.
Mas imagina se alguém dessa turma vai receber mal uma pessoa vestida de um jeito diferente deles? A menos é claro que role uma alça de silicone. Meu senso estético por mais ferido que esteja pela sandália e a falta de manicure, não altera minha educação. Já uma camisetinha dos Ramones básica causa tanto auê?
Me trataram como se eu fosse um hell´s angels de Oakland. Aqueles que mataram um cara no meio do show dos Rolling Stones em Altamont. Tava todo mundo esperando eu sacar o soco inglês. Até parece que eu ia arriscar a quebrar uma unha. Tem dó, fui ao show do meu amigo, nem me lembrei o estilo musical. E afinal por que fingir o que não é? Por que não admitir logo que reparam na roupa dos outros e pronto. Não fica com discurso politizado criticando quem gosta de moda, chamando de fútil. Compra logo uma Vogue e relaxa. Se não der, geralmente os jornais tem um caderno de moda, já dá pra ter uma noção.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

QUATRO

Me sinto um anti Peter Pan. Por fora, essa impulsividade, jovialidade. Esse não sei o quê, que leva todo mundo a me tratar como criança, a não confiar tarefas sérias a mim. A não me levar à sério. Por me faltar a postura adulta, o scarpin, a pantalona de crepe (ave!).
Mas eu, aqui com meu bico, minha birra, jujubas e pulinhos no meu vestido de bolinhas, com meu All Star azul, porque moro em Laranjeiras e adoro um clichê. Eu que choro porque acabou o iogurte (na tpm vale tudo), me sinto velhíssima.
Uma senhora idosa cansada das pessoas, com muita preguiça. Se por fora devoro jujubas, por dentro a idade é dobrada. O maior sinal da idade, vem quando morro de rir com o último Indiana Jones, o velho com medo de cobra. Rio sozinha enquanto me olham estupefatos. Meu avó também ria de coisas bobas, coisas que só crianças e velhos riam. Coisas que adultos não acham graça.
Pois eu, a senhora velhíssima que sou, pensava morar em Londres. Dizia: "Sylvia, você vai aprender a ser sábia na Europa". Ir a um lugar aonde ninguém me conheça e eu não conheça ninguém. Trabalhar de garçonete, cantar bossa nova desafinada, morar sozinha num apartamentinho e só. Aqui eu cansei. Porque mudo de ideia toda hora e enquanto fazia meus planos, sonhava com passárgada, você apareceu.
Já queria trabalhar numa livraria, terminar a faculdade, que entrei depois de velha, ter uma estabilidade pagar um aluguel, dividir as despesas. Enfrentar o Rio, ser artista no Rio junto com você. Até ter um filho. Novos sonhos, mas paciência tudo em troca de um amor. Ser herói por um dia. Viva o David Bowie. Mas você foi embora e tudo acabou, o sonho, os Beatles, o equilíbrio.
Senhoras e senhores voltei! Serei junkie, beberei, cairei e assim como Sylvia, a Plath. Devorarei os homens como o ar.

TRÊS

- Que merda, pensei, enquanto me dirigia histericamente ao laboratório às cinco da manhã.
Exame de urina marcado pra às seis da manhã. Por que meu Deus? Porque pertenço ao grupo de mulheres nervosas que resolveram abarrotar os laboratórios depois que a modelo morreu. O caso foi no fim do ano passado, tem outras nuances mas basicamente a moça tinha uma infecção urinária que virou algo incontrolável. Ela teve mãos e pés amputados.
Com Boxing Helena na cabeça, aquele filme em que o Julian Sands vai amputando os membros da amada até colocá-lá numa caixa, e também pensando no leve incômodo que sinto ao urinar desde novembro, resolví fazer alguma coisa. Mesmo que levada pelo mau gosto.
No caminho de Laranjeiras até ao laboratório em Botafogo, tem muita coisa pra pensar, inclusive nessa péssima ideia de vir a pé. No meio do caminho tem um Am/Pm e lá vou eu comprar um Twix. Já que estou aqui, melhor comprar também um suco de pêssego. Muito estranho esse exame, estou levando mijo de casa, e vou ter que produzir outro na hora. Esqueci de perguntar por que.
É um bom momento pra me solidarizar com os atletas e o antidoping. Por falar nisso, terei eu feito algo suspeito no fim de semana? Domingo não, sábado não lembro, sexta foi há muito tempo. Foda-se. Tá tocando Beastie Boys no meu ouvido: "you gotta fight for your right to party!!" Amém.
Estou longe de ser atleta, essa vai ser minha única oportunidade de me sentir como um. Será que a enfermeira vai ficar olhando? A médica deve querer saber se a urina é minha mesmo. Ainda bem que estou de calcinha nova.
- Bom dia para a recepcionista. - Bom dia, para o segurança lá vou eu. Sexto andar. Elevador. Credo, elevador em hospital, nunca mais vai ser a mesma coisa desde Grey´s Anatomy. Tenho vontade de apertar a emergência, fazer alguma revelação, pedir desculpas a alguém ou dizer que amo. Com a minha sorte vou dar de cara com um tipo George. Na descida Deus, mande o Patrick Dempsey sim? Que evolução desde Namorada de Aluguel... Já que estou pedindo, por favor, que o mijo não tenha derramado na minha bolsa. Ai meu saco.

DOIS

Cá estou eu pensando em relacionamento. Pior, com vontade de falar sobre isso. Credo.
Deve ser porque o meu acabou. Sylvia, disse eu: "Você prometeu que não viria a cena pra bancar a mulherzinha". Vamos combinar, nada mais chato que assunto de mulherzinha, dúvidas de mulherzinha... Caralho.
Logo eu, que tanto critiquei Um Teto Todo Seu. Ok, vamos pensar nos desatualizados. Um Teto Todo Seu, é um ensaio da Virgínia Woolf, sobre mulheres e literatura. No livro Mrs. Woolf diferencia a literatura feminina da masculina e eu discordo plenamente. Livro é livro porra. Escritor é escritor e tanto faz se é homem, mulher, criança (Deus me livre livro escrito por criança) ou gay. Porque tem isso, quem nunca leu uma resenha que começava assim? " O escritor homossexual Gore Vidal etc, etc." Ok (de novo) isso não é um tratado sobre literatura.
Não queria falar sobre relacionamento? Então. Lá estava eu sozinha no apartamento do meu (ex) namorado, que gosta de samba, nunca ouviu falar em Ramones, pensa que New York Dolls é um modelo de Barbie e dança forró (!!!), peraí que eu vou tomar um Rivotril.
Atração inexplicável, deve ser o olho azul (dele, o meu é verde). Se eu aturasse Legião Urbana saía cantando Eduardo e Monica. Cruzes.
Mas lá estava eu nervosa/agitada e angustiada, por isso fui pra lá. Não quero falar sobre os motivos desses sentimentos, mas vamos ao resultado: Lá estava eu, agitada já disse, sozinha olhando o apartamento. Pilhas e mais pilhas de louça suja. Montanhas de roupa pra passar espalhadas pelo sofá, pelos cantos e eu lá. Agitada.
Tentei ignorar. Pensei: "Não faça isso". Cadê o feminismo? Foi mais forte do que eu. Num instante, já estava dobrando as roupas. A voz dentro de mim repetia: "Não faça isso". Mas eu só vou dobrar, para ter onde sentar. Pelo mesmo motivo fiz a cama. E a voz... Acabei tirando o pó dos móveis e varrendo a casa. Quanto a louça, fui salva pelo gongo. O bofe chegou.
Quando estou angustiada, pegar no pesado me faz bem, mas não é sábio sair fazendo faxina no apartamento do namorado. Porque ou você explica que tem transtorno obsessivo compulsivo e queima o filme. Ou deixa ele pensar que você quer casar e queima o filme. Só sei que eu ia trabalhando e apesar de ir me acalmando, fui ficando tensa por esses motivos. Não se deve fazer faxina no apê. do namorado simples assim.

UM

Muito prazer meu nome é Sylvia. Quando nos conhecermos melhor, direi meu sobrenome. Sou carioca, obsessiva, compulsiva. Mais exatamente aquilo que chamam de Drama Queen. Vivo no meu mundinho, tal como Nelson Rodrigues, a partir do Méier sinto saudades do Brasil. Meu Brasil vai de São Conrado a Tijuca, dois lugares onde nunca vou. Quando a gente escreve, é sempre bom localizar geograficamente o leitor. Aprendi isso com Guimarães Rosa. Para os mais distraídos, isso é uma piada.
Faço parte daquele tipo de gente que odeia tudo, mas não vive sem (o que odeia), tenho angústias e bem vindo ao clichê. Também tenho Rivotril, que está na moda e eu sou muito antenada. Não se engane com meu tom arrogante e cheio de si, sou extremamente atolada. Fiz teste para Os Três Patetas, não deu. Eles já tinham o Curly. Foi aí que descobri a escova progressiva e desde então ando levando meu cérebro para tomar doses de formol. É bom.
Gosto de dizer que desconfio. "Desconfio de gente feliz", é meu novo lema. Tudo blefe, não sou tão esperta. Então ficamos assim: eu desconfio, mas não sigo meus instintos. Sempre me ferro por isso, a cabeça não é o fato, já dizia Shakespeare.
O tema aqui sou eu, eu e a minha vida. Não gosto de gente egocêntrica, mas a gente precisa focar no que conhece. Não conheço ninguém melhor do que a mim mesma e acredite, isso não é uma vantagem.
Aos 14 anos entrei numa boate e nunca mais saí, gosto de rock e punk. Terminei um relacionamento e ando numa fase (mais) junkie. O que me intriga, é que mesmo assim, não perdi uma grama do meu peso. Outro dia bebí, caí, quebrei o dente, machuquei o joelho. Mas depois que me levantei, me senti muito mais tranquila. Foi melhor que vomitar. O gosto de sangue na boca realmente me deu uma paz. Sabe, depois de umas e outras, eu preciso ficar perto de gente concreta. Não me lembro quem foi o João Cabral, mas quando acordei em casa, o dente estava na minha bolsa. Pena que não serviu.
Bom, eu sou uma moça e parece que estou condenada a coisas fúteis e triviais como depilação, manicure e fazer ginástica (ave!). Por isso, não esperem muito de mim.