quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

DESSESETE

Fim de ano a gente faz balanço.
O ano está longe de acabar mas sempre tem um ansioso pra perguntar sobre o reveillon. Gente, calma. Reveillon não precisa ser o melhor do programa do ano, a noite mais legal. É só um dia que a cidade fica acordada até mais tarde. Sinto muito, mas sua vida não vai mudar porque mudou o ano. Resolve de outro jeito.
Se eu fosse fazer um balanço tipo caderno cultural poderia começar por televisão.

Destaque do ano: Théo Becker. Um gênio. Sim porque um cara que cria uma metáfora com o War, é o cúmulo do pop. Essa entrou pra história e vale a citação: “sabe quando você tá jogando War e você tá dominando a Europa e todo mundo se reúne pra te atacar?” Maravilhoso, eu quero esse áudio de ringtone. Por falar em ringtone, ai que saco essa pressão pra resolver o celular. Telefone fixo também recebe ligação. Tá aí desde o século 19 firme e forte. Ok, vou resolver essa questão. Em Janeiro compro um troço novo.

Vamos continuar com os destaques e fingir que sou culta, senão fica muito bagaceiro.
O problema desse tema, é aquela velha história da faculdade que entrei depois de velha. Graças a ela, tô super por fora. Mas aproveito pra eleger o Lehmann e o pós dramático como destaque no teatro since 2007. Que foi quando o livro foi publicado no Brasil. Desatualizados já sabem: São Google o padroeiro dos ignorantes.

No cinema destaque para O Lutador, o filme que transformou o príncipe do cool no rei do glam. Não dá pra esquecer, a sequência da preparação do Mickey Rourke para lutar. Principalmente se a gente compara com o Rocky Balboa. Enquanto o Rocky come ovo cru, corre, treina, sobe e desce escada, sangue suor e lágrimas.
O Lutador, (pra quê se esforçar?) simplesmente vai ao cabeleireiro fazer a raiz do cabelo, faz uma sessão de bronzeamento artificial, vai no vestiário da academia, prepara uma big injeção de anabolizante, tasca a parada na bunda. Faz 15 minutos de levantamento de peso e tá pronto. Confesso que amo o Mickey Rourke, quando eu era pré adolescente, minhas amigas colecionavam pastas de fotos do Tom Cruise e eu fazia pastas e mais pastas dele (o Mickey Rourke).

Que mais? Destaque na música? Hummm... Aqui no meu universo o destaque foi o AC/DC, mas não posso deixar de destacar meu saco super cheio e a minha preguiça dessas cantoras de samba dress up Isabela Capeto. Com flor no cabelo, pés descalços e mãos nas cadeiras. Gente que saco, o jeito Sandy de ser chegou ao samba. Nunca pensei que fosse dizer isso, vou até respirar fundo: Ai que saudade da Alcione! Pronto falei. É claro que só de pensar nas unhas eu quase morro e tenho vontade de gritar. Mas não posso deixar de admirar o abuso. Pensando, bem falta pouco pra Alcione fazer um cover da Divine (Hello?! Se liga no John Walters). Sylvia gosta de gente exagerada, de glam e visual esquisito, tá na hora de reconhecer que a Alcione e a Lady Gaga estão muito próximas.

DEZESSEIS

A vida é complicada e os objetivos das pessoas são pobres. Tal conclusão ulula a minha frente como o óbvio (que só os profetas enxergam) de Nelson Rodrigues.
Viver é um saco. Tô aqui esperando a vida acontecer. Sim, porque não é possível que viver seja só isso. A vida não pode ser só tentar ser alguma coisa, tentar comprar alguma coisa, tentar construir alguma coisa, tentar realizar alguma coisa. Putz que preguiça. Algum chato inventou que pro homem se realizar tem que plantar uma árvore, construir uma casa, escrever um livro e ter um filho. A parte da árvore e do filho eu dispenso. Pensando bem o livro também, restou só comprar um apartamento na Avenue Foch, é claro. Afinal, não estou aqui pra isso.

Piorou. Se já estava achando pouco os itens indicados no manual de instrução, agora que dispensei três, ficou mais pobre o objetivo de vida. Mas lá vamos nós...
Confesso que sou ansiosa. Quando eu era criança imaginava que seria velhíssima aos 18 e estaria realizada, com minha casa, marido e filhos. Nossa como eu era cafona.
Não apareceu o grande amor da minha vida, então a saída foi passar de ultra romântica pra ultra sarcástica. Como o ano tá acabando, confesso que ainda quero o conto de fadas, mas não conta pra ninguém.
Quantas vezes na infância enchi a boca pra dizer ”quando eu crescer...” Eu cresci e não aconteceu nada de especial. Vou no Procon. Fui enganada, cadê toda aquela emoção, felicidade, realização?
Jesus Cristo eu estou aqui! Já cresci e não tenho nenhuma história emocionante pra contar. Nem eu nem ninguém da minha geração. Só a de tentar realizar as coisas, ou falar sobre as realizações, que pra mim são muito poucas. É pouco comprar apartamento, é pouco um marido, é pouco ter um emprego legal. Tudo isso é pouco e sem emoção.

Enquanto isso escuto uma música e nela o John Lennon diz que a vida é o que acontece enquanto fazemos outros planos. Piorou de novo. Por isso que meu Beatle preferido é o Ringo Starr. Sarcasmo, a moça gosta de sarcasmo.
Não me venham dizer que estou exagerando, que a vida não é tão pobre assim e que estamos (essa palavra de novo) tentando. Não tenho saco pra Pollyanna. Alguém aí pode dizer sem pensar duas vezes que está satisfeito? Decididamente a vida não pode ser só isso.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

QUINZE

Muita gente anda perguntando, onde estou. Onde me meti nesse mês de novembro último. As poucas vozes que escuto (afinal não ando circulando) me dizem: "Sylvia cadê você?" Pra culminar, recebi um e-mail: "você morreu?" Quase. A culpa é da faculdade que resolví fazer depois de velha e de outro pequeno detelhe chamado sobrevivência. Entre provas e trabalhos eu ainda fui fazer um trabalho de verdade. Ficou impossível circular por aí
Tudo seria mais fácil é claro, se eu fosse uma pessoa simples. Uma pessoa normal, sai sexta depois da aula, volta pra casa. Dorme, acorda no sábado e estuda. Genial. Eu não. Uma simples saída pra mim é uma odisséia. Pra início de conversa, só me dou com gente intensa e tudo sempre acaba numa festa. Ir alí pra mim é sempre o Anjo Exterminador, aquele filme do Buñel em que a porta está escancarada e ninguém consegue voltar pra casa. Querem ver? Outro dia fui "alí" no Leblon, mais exatamente no Jobi. Nossa Jobi é sempre um problema. Toda história longa em algum momento tem o Jobi como locação. Pois então, fui alí no Jobi com dois amigos rapidinho. O telefone toca. Parênteses, é por isso que desde que perdí meu celular não adquiri outro. Meu celular só tocava quando eu estava na rua, impressionante. Mas o telefone do amigo tocou. Era o pessoal chamando pra outro bar em Botafogo. Ok. Chego no bar e encontro umas 14 pessoas amigas. Fenômeno que me choca. Eu não saio na rua e encontro conhecido, colega. Eu saio na rua e encontro amigo.
A) O Rio de Janeiro é uma aldeia.
B) Eu vivo encimesmada no meu mundinho.
C) Tá na hora de mudar de point?
Todas as alternativas estão corretas. Enfim estou lá com 16 pessoas da minha mais alta intimidade, que não marcaram de se encontrar. Pra piorar é alta a porcentagem de quem já me comeu em algum momento da minha vida. De repente chega mais um e avisa de uma festa. Tudo acaba em festa, eu já disse isso hoje. No fim da festa às quatro da manhã, surge a idéia do koni e volto pro Leblon. No meio do koni a amiga chama o povo pra casa dela e quando eu vejo são 10 horas de sábado e a festa nunca termina. E me lembro que não comecei a noite no Jobi, ainda na noite de sexta fui a um vernisagem.

Agora eu pergunto: dá pra confiar? Se eu tenho que estudar, não é mais sábio (afinal com a turma que eu tenho) ficar em casa calma e deixar o leão adormecido?
Essa ida "alí" foi depois das mil provas e trabalhos é claro. Antes a correria foi tanta que até o remendo do meu dente, que eu coloquei outro dia, resolveu soltar. Fui fazer a prova com o dente colado com super bonder, veja você que falta de glamour. Coloquei a culpa numa batida de dente que andei dando por aí. Mais é mentira, a dentista disse que meus sisos estão pressionando a arcada e descolando o remendo. Parece que é pra eu, além de evitar as maçãs, não esquecer mais de levar o super bonder na bolsa. Pelo menos até tomar coragem e tirar os sisos.
Entre muitos trabalhos, fiz uma prova de semiótica e um cenário. Aqui eu vou explicar. Eu não sou artista. Sylvia não é artista, artista é o caralho. Ok. Eu faço figurino, meu negócio é moda, é roupa. Não me fale em arte. Por um detalhe que não é da minha alçada, pra aprender figurino, tenho que frequentar uma escola de artes, que preguiça. E pior, ainda tenho que conviver com uma gentalha que faz teatro. Credo. Uma gente sem berço, que se cumprimenta fazendo escândalo, um pessoal muito íntimo sabe? Hummm. Pra mim esse negócio de ator é tudo "pobrema" de ego. Gente que quer aparecer.
Pára com isso, o elegante é ser discreto. Tenho muita aula com esse tipo de gente, tive até que fazer uma apresentação, que absurdo. A cena era num banheiro e meu cenário era uma privada. Estava pragmaticamente tentando resolver, quando meu parceiro de cena (só podia ser ator) me manda a seguinte sentença: " não precisa de privada, você não vai na aula de semiologia?" Adonai. Nesse momento tive uma epifânia, uma revelação divina para os desatualizados. Entendi a semiótica da semiótica. A aula de semiologia é lavagem cerebral! A faculdade federal na verdade tá querendo dizer o seguinte: "você artista, se conforme com a falta de verba. Não vai rolar Miss Saigon. Peça com helicóptero de verdade em cena, hélice girando no palco, esquece. Não vai dar. Mas com ajuda do camarada Pierce e do camarada Saussure (nada me tira da cabeça que esses dois são comunistas) e da sua semiótica nós estamos aqui pra te convencer, ops ensinar um negócio muito mais legal, que o tal helicóptero em cena. O signo. Faz o seguinte querido artista: pega aí um cubo preto de madeira, junta um monte e diz que é um signo do helicóptero." Olha que maravilha, não precisa apoiar a arte, o cubo resolve, e a garrafa pet também é joia. Ótimo. A semiologia é pra gente se conformar e aprender a fazer peça cubo. Semiótica igual a, esquece Miss Saigon.
Maravilha já resolvi a tese de mestrado, "o cubo, o signo e as mil utilidades" um problema a menos na minha vida, agora é só desenvolver isso. Tenho certeza que um dia eu vou abrir uma porta na faculdade e dar de cara com mais de 10 mil cubos de madeira pretos. Saca a sala precisa de Hogwarts? Aquela do Harry Potter, nego só acha a porta quando tá precisando de alguma coisa. A pessoa mentaliza "preciso de um banheiro", aparece uma porta e é um banheiro. Então, um dia eu vou mentalizar (porque lavagem cerebral é um troço que funciona), abrir a porta e encontrar todos os cubos do mundo. Vou montar todo o repertório da Broadway com cubo de madeira. Vai ficar uma beleza, de Wicked ao Hamlet do Jude Law. Esse vai ser o melhor, porque vou estar dominando a semiótica a tal ponto, que vou mandar pintar dois olhos azuis, verdes, whatever, num cubo e transformar o cubo num índice, num rastro do Jude Law. Genial.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

QUATORZE

Rio de Janeiro, Laranjeiras, Urca, Gávea e Leblon. Em Laranjeiras moro, na Urca estudo, na Gávea e no Leblon, me divirto. É verdade, que com mil trabalhos pra entregar na faculdade, projetos pra tocar e mil textos (também da faculdade) pra ler, tá difícil a diversão ultimamente.

Veja você, que trabalhar não faz parte de minha longa lista de atividades. Não por culpa minha é claro, são os empregadores que ainda não enxergaram minha competência. Pior pra eles, que fazem questão de se cercar de gente desinteressante e sem as minha credenciais e pior pra mim que sigo pela vida lisa, sem grana, mas sempre com muito glamour é claro. Ok, já não bastasse tanta atividade e a dificuldade de conciliá-las, ainda tenho e-mails para responder e muita culpa pesando os ombros. Talvez por isso, esteja mergulhada numa crise de insônia e graças a ela, arrumei mais uma sarna pra me coçar. Resolvi ler Ulisses. Parênteses: se tem alguém aí que não sabe que é do James Joyce, ficou sabendo agora.

Então temos mil trabalhos, projetos pra tocar (tenho que inventar um jeito de ganhar algum dinheiro né?), mil textos pra ler e um dia de 852 páginas pra completar. Adonai me ajude! 852 páginas não são nada. Hoje em dia qualquer Harry Potter tem isso, mas haja atividade num dia só, heim. Só sei que já estou a dois dias no dia 16 de junho de 1904 e nada do Jack Bauer, ops do Leopold Bloom, o Ulisses para os desatualizados. Até agora só apareceu o tal do Stephen Dedalus, que representa o Telêmaco e eu saberia quem é se tivesse lido a Odisséia. Mas parei na Ilída, de modo que realmente tá difícil entender porque tantas páginas desse Stephen. Pelo visto, vou passar um bom tempo em Dublin, 16 de junho e bem pouco na Gávea e no Leblon. A menos é claro que Viver a Vida conte como diversão e Leblon.
Mas já que eu estava falando em alguém que vive uma odisséia em 24 horas, não posso deixar de me lembrar do Jack Bauer. Como será que ele está? Anda lendo 24 horas, ops Ulisses também? Segundo Antônio Houaiss, estou nas 11 horas da manhã de um dia que começou às 8hs. Vai ser uma longa jornada noite a dentro, já dizia O'Neill.

Enquanto isso, meu gato sumiu e depois de perder horas do meu escasso tempo procurando, without a trace, pela rua com uma foto na mão igual mãe de desaparecido, achei ele dentro de casa, trancado no banheiro de empregada. Francamente Simonal. Com tantas interrupções e afazeres, parece mesmo que vou passar um longo tempo em 16 de junho de 1904.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

TREZE

Outro dia estava linda e loira me acabando de dançar, quando fui ao banheiro, olhei no espelho e enjoei desse cabelo preto. Sylvia pensei: esse look já deu. Foi então que decidi cometer suicídio capilar. Descolori e depois joguei outra tinta por cima. Conseguí clarear 3 tons passando de preto pra chocolate, e com paciência no mês que vem, se Deus quiser volto ao tom natural ou fico careca tentando. As consequências do suicídio capilar são muitas, a principal é o ressecamento que grita. Mas tenho feito muita hidratação, e amanhã já encaro uma chapinha.

Passei o feriado me tratando, eu estava um lixo, coitadinha. Fiz pé, mão, passei blondor no braço, na coxa, raspei a perna e marquei a depilação da virilha. Também fiz hidratação no cabelo e estudei. Mesmo assim ainda faltam umas 40 páginas, como sempre de antropologia. Jesus! Não vou colocar isso em dia nunca. Ai minha vida social... Que falta sinto dela. Ou pelo menos de um romance. Romance pra ler e pra viver também. Porque na vida real, só tenho visto romance em Californication. Não é bem romance que eu vejo lá, mas uma moça não comenta.
Tudo culpa da minha incapacidade de dormir e acordar cedo. Seria tudo mais fácil se eu dormisse menos. Chegaria da aula, leria o que eu tenho que ler, me manteria arrumadinha, teria tempo pra saír no fim de semana. E a vida poderia até me acontecer. Mas como durmo até o último minuto e chego com sono, nunca leio nada durante a semana. Preciso resolver essa questão.

Não é só comigo que isso acontece. Outro dia, um colega, chegou super atrasado na aula, e com o uniforme do colégio. Comecei a rir muito. Imaginei o menino, que acordou sequelado e esqueceu que acabou o segundo grau. Vestiu o uniforme e saiu por aí. Foi bater no colégio, lá lhe informaram que ele já estava na faculdade. Correu pra Urca e enfim chegou. Basicamente é isso que eu faço na aula de antropologia viajo em cima das coisas que eu vejo. Pior é que até que essa aula melhorou muito depois que o Roberto da Matta entrou em cena, mas não adianta o sono sempre é muito e a dificuldade de concentração idem.

Por falar em Viver a Vida, tenho visto muito. Um saco a Helena falar com todos os ésses e érres, mas Ok. Como diz um amigo, em novela do Manoel Carlos todo mundo é bonito e rico. Por isso a gente acaba vendo, não tem jeito. Outro dia estava reclamando que não tinha argentino em Búzios, mas já apareceu um lá. Patrão de não sei quem. Mesmo assim não é o suficiente. Quando vão acabar com esse preconceito e instituir um núcleo argentino em uma novela das Oito? Tem novela com núcleo marroquino, indiano, italiano. Argentino nunca. Durante quase um mês, foi ao ar uma novela com núcleo em Búzios e sem nenhum argentino. Só agora apareceu um (!). Mesmo assim é muito pouco. Afinal parte da novela é em Búzios. Por falar nisso, em que bairro de Búzios moram aqueles pobres da sorveteria? Deve ser na fronteira com Cabo Frio bem bem longe da Rua das Pedras.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

DOZE

Antigamente as pessoas eram mal educadas e pretenciosas. Mas pelo menos se interessavam pelo trabalho dos outros, e liam. Hoje em dia as pessoas são mal educadas, pretenciosas, iletradas e fechadas no seu mundinho. Quer dizer que só se interessam pelo trabalho do pessoal da sua turma. E como são iletradas, elegem como deus, alguém que estudou um pouco mais e reciclou as idéias dos outros.

A arte virou um caô só. Fico pasma com isso, principalmente porque quanto mais eu leio, menos dou valor ao que penso, menos me acho genial. Eu leio e penso: "putz, nunca vou fazer melhor. Vou desistir" As palavras dos outros me inspiram a desistir. Por isso chego a admirar quem consegue copiar ou reciclar alguma idéia e pronto, estar moda.

Aqui no Rio de Janeiro é muito importante isso, estar na moda, ser quente. É isso que faz alguém prestar atenção no seu trabalho, não o contrário. Porque se não te respeitam socialmente, não vão perder tempo em saber qual é a tua. Existe também a lei do fazer carreira em festa. Não tenho esse talento. geralmente numa festa, só me preocupo em não beber demais e quebrar o dente. Acaba não dando tempo para um lob básico, principalmente se a música for boa.

Também me preocupo em não ser uma pessoa magoada, isso é importante. Cada um tem o seu caminho e, vamos lá. Por isso fui estudar. Estudando e fazendo carreira acadêmica, não precisarei me preocupar em fazer sucesso socialmente pra trabalhar, nem em ter amigos da moda, essas coisas. Eu estudo pra poder ser quem eu sou, falar o que eu penso, não depender de ninguém. Bom, tem o pessoal que paga as minha contas, mas não quero pensar nisso agora.

Infelizmente, a sensibilidade é algo que não me governa, por isso por mais que eu tente, não consigo dizer coisas sensíveis. Mas não sou agressiva. Detesto gente que te alfineta a toa. Esse pessoal da agressividade gratuita, sabe? Nessas ocasiões eu me fecho. Não por falta de resposta, mas por preguiça de aguentar a consequência da resposta que pensei. Porque nunca sou sutil. Como bater boca é um saco e geralmente demora muito, acho melhor calar.

Outro dia, pensei que estava bem. Tava com uns amigos falando besteira todo mundo rindo. Até que uma moça resolveu tentar me agredir a troco de nada. Pelo menos foi o que ela achou que estava fazendo. Não entendi muito bem. Eu perguntei onde era o banheiro, e ela me mandou ir num lugar que não era. E daí? Não sei por quê, quando voltei tava todo mundo rindo. Que bobagem, o que é que tem demais isso? Andar emagrece.

Na volta pra casa, tentei entender a graça em tentar fazer uma pessoa de palhaço a essa altura do campeonato. Já que o ginásio acabou faz tempo. Vamos analisar a minha ida ao banheiro. Eu estava conversando, perguntei onde era o banheiro e uma moça nada genial me disse que era num lugar errado. Ok. Pensei, bom estava todo mundo se divertindo, ela não tinha senso de humor, resolveu chamar atenção pra sí da maneira clássica, sacaneando alguém. Isso serve pra muita coisa hoje em dia, até na arte andam fazendo as pessoas de palhaço. Quem não tem talento faz isso com o público.

É também isso que as pessoas fazem quando se sentem ameaçadas com a inteligência alheia. Eu não me sinto nunca assim. Primeiro porque estou longe de ser um gênio, graças à Deus. Segundo porque inteligência, eu quero é sugar, ser pentelha perguntar. Terceiro porque, se por um acaso eu achar que devo fazer alguma coisa pra chamar atenção, então posso considerar que a inteligência alheia me inspira. Mas eu não gosto desse tipo de competição. Quando eu vejo alguém brilhando, eu observo. E se for caô, eu vejo até onde vai, adoro observar isso. Se for talento, eu babo mesmo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ONZE

Inacreditável. Passei um mês levando a faculdade, que resolvi fazer depois de velha, à sério. Nesse mês recebi um cabloco CDF de frente e li todos os livros, fiz todos os trabalhos, literalmente tudo que meus mestres mandaram.
Até um dia, semana passada em que estava eu na biblioteca lendo um livro chatissímo de antropologia, quando percebo um entra e sai dos meus colegas no recinto. No terceiro que passou me dei conta. Epa! O que eu estou fazendo aqui? São 19hs da noite, porque só eu vou ler isso? Fui atrás do bonde e descobrí o que estava acontecendo. Um pouco depois lá estava eu sentada com um monte de gente desconhecida. Bebendo cerveja, bebida que por sinal eu detesto. Mas quem disse que tinha whiskie no camelô que fica em frente à faculdade vendendo bebida?
Fiquei por lá até perceber, around midnight que era hora de partir, pois era dia de Ugly Betty. Claro que no dia seguinte não fui à aula. Acabando assim com a minha curtissíma carreira de CDF.

Um mês sem sair, quatro fins de semana em casa lendo. Um mês em que frequentei exaustivamente a biblioteca e a xerox. Só. Pra não dizer que não tive nenhum lazer caí no conto do Sacha Baron Cohen e fui ver aquela coisa de extremo mau gosto chamada Brüno. Credo. Pra quem andava na compania de Fernando Arrabal, Peter Weiss, Bernard Dort, Roland Barthes, Gerd Bornheim, Jean Baudrillard, Peter Szondi, Anatole Rosenfeld, sister Wendy Beckett, Béatrice-Picon Vallin, Eurípedes, Ésquilo (como é chato Agamênon), o pentelho do livro de antropologia que não vale a pena citar e é claro Aristóteles. Além de meu querido Bernard-Marie Koltès. Brüno realmente não deu.
Não tenho nenhum amigo do nipe dessa galera acima, mas a companhia deles não estava me satisfazendo. Depois que fugi da biblioteca não parei mais. É isso aí. Até agora estou na gandaia.

Nesse mês isolada, também me joguei no Facebook. Graças a ele e seus incríveis testes descobri muito sobre mim. Descobri que: se eu fosse um rock star, seria Freddie Mercury. O tipo de bêbada que eu sou? É o divertido. Na noitada me transformo em Amaury junior, minha maior fraqueza é a alma (heim?), a característica que mais aparece em mim é o romance, meus olhos dizem que tenho humor, o tipo de pessoa uó que eu sou? "bunita". E personagens de séries e filmes: em Nip/Tuck eu seria a Kimberly, Ugly Betty-Amanda, Gilmore Girls-Rory, House-Chase, Harry Potter-Luna Lovegood, One Thee Hill-Broke, Friends-Phobe. Isso é que é esquizofrenía. Ou eu sou avoada ou uma bitch. Tem mais, um pintor eu seria Monet, uma música do Guns n´Roses-November Rain (ave que música chata), música do Bon Jovi-You Give Love A Bad Name (bem melhor). Achou pouco? Pois meu nível de brasilidade deu zero. Pensando bem, como eu conseguí ler tanta coisa fazendo tantos testes e ainda jogando (muito) Mafia Wars?
Mas por falar em nível de brasilidade, estou pensando em incitar uma grave geral na faculdade. Pelo meu direito de não cursar Antropologia da Cultura Brasileira! O famoso folclore. Uma vez que sou argentina, essa matéria me tornaria uma pessoa aculturada. Um termo muito em voga nessa aula. Pelo pouco que eu captei dessa matéria chatíssíma, porque o sono é muito sempre. Não é de bom tom aculturar uma pessoa. Então eu revindico a preservação de meus valores argentinos (não os tenho, mas ninguém precisa saber), não frequentando essa droga. O argumento tá legal e dentro do contexto da coisa. Ok. Só preciso saber se o resto do povo vai aderir a um protesto cuja a única beneficiária sou eu.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

DEZ

Eu adoro a Madonna, já falei sobre isso aqui? Mas ela anda tão qualquer nota... Não contente em arrumar um toy boy brasileiro from Catete (eu não me conformo), parece que o show do DVD Stick and Sweet Tour vai ser a versão gravada aqui. Pela Virgem! Tá faltando muito pouco pra virar o Jimmy Cliff.
O Girlie Show foi uma das maiores emoções da minha vida e esse ultimo show também.
Graças a muito sacrifício e fanatismo, assisti aos dois shows na grade. Gosto de ficar pertinho dela. Em 93 comprar ingresso foi fácil, dessa vez...

Vou contar como foi: O tempo e a maturidade me deixaram mais tranqüila, por isso, mesmo tendo combinado com amigos às 16hs (o portão abria 17hs, hora do show 20hs), saí de casa 14hs. Tinha que ir atrás da minha dose diária de jujuba. Passei em duas lojas do Hortifruti, nas Sendas e não tinha jujuba a granel. Me informaram que tinha acabado. Aonde vamos parar? Só achei um pacote de 150gr na Casa do Biscoito.
Resolvida essa questão, peguei aquele transporte super complicado chamado metrô. Nunca sei pra que lado é, e não agüento o estresse em que fico, pensando que não posso esquecer de saltar e pegar aquele trenzinho que vai para Pavuna, mas antes passa pelo Maracanã.
No trenzinho da Pavuna, comecei a refletir sobre o problema das camisetas masculinas. Não sei o que aconteceu, elas andam muito curtas. O sujeito levanta o braço, para segurar no puta que pariu do metrô e fica com o barrigão de fora. Uma beleza.
Meus amigos me ligaram: Cadê você?
- Estou aqui.
- Aqui onde?
- Na fila.
O que eu posso fazer? Sou metade brasileira e fiquei com a metade que adora fila. Para comprar o ingresso, cheguei meia noite de uma sexta na Morden Sound (Adonai me livre madrugada no Maracanã) e saí 9hs de sábado. Tudo com muito glamour.
No grande dia, na saída de casa, minha mãe me deu um pacotinho lacrado com uma capa de chuva descartável de lixeiro. Aquela de plástico transparente que o povo veste pela cabeça em cima da roupa. Muito elegante, temo em pensar aonde e porque ela arrumou isso.
Enfim, voltando a Madonna, 90% da mulherada presente ao show, errou de musa e resolveu ir vestida de Rita Cadilac. Jeans justo, bota de cano alto pra fora da calça, maquiagem e cabelão. Meu cérebro impregnado de soda caustica e formol me impede de comentar sobre escova progressiva, por razões óbvias. Entrou um DJ com o cabelo igual ao Zacarias, e só tocou farofada de radio. Para culminar o dito me manda please don´t stop the music e o Maracanã inteiro vem abaixo com aquela merda. Não sei como a Madonna não entrou em cena e gritou: “she´s not me, she doesn´t have my name...” Alguma coisa aconteceu, porque a senhorita guarda chuva saiu de cena e o White Stripes gritou (amém), depois ainda teve Eurythmics. Provavelmente em represália, Madonna atrasou uma hora e meia, filha da puta.

O show foi o melhor dela, até hoje estou traumatizada com a beleza da luz em Devil Wouldn´t Recognize You. Não queria, mas chorei de novo (como em 93), a metade argentina agüentou as imagens do enterro da Evita em You Must Love Me, o povo chorando, as senhoras com lencinho... Coitadinha da Evita. Foi bom, depois fiquei mais tranqüila.

Na volta, acabada e sem voz me joguei num táxi. Antigamente um táxi era um refúgio calmo e silencioso. Hoje em dia os taxistas falam a beça. Já na bastasse aquela pergunta inicial: pra onde vamos? Detesto essa pressão. Principalmente porque sempre esqueço que é uma pergunta concreta e penso que é uma questão metafísica.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

NOVE

Sylvia o que você tem a dizer essa semana?
Nada estou sem assunto. Mentira. Assunto tenho muitos. Mas ultimamente só tenho tempo pra antropologia. Vou fazer uma campanha pela valorização do fútil. Bom, acho que Oscar Wilde já fez isso. Depois, hoje em dia todo mundo tem opinião. Aqui não é lugar disso. Aqui é lugar da Sylvia. Hoje vou falar mais um pouco sobre mim.

Não nasci pra coisa séria e se até agora você não me conheceu e só prestar atenção no que gosto. Sou aquilo que gosto. Que é ilegal, imoral e engorda, para não fugir do óbvio. Tal Umberto Eco, tenho multidões dentro de mim, não quero me organizar por dentro. Amo o caos, os gatos, o punk, o rock, mate-me, por favor, David Bowie, cinema, o pop, Madonna, Elton John, FANTE, FANTE, FANTE. “Os dias magros de determinação. Aquela era a palavra certa: determinação: Arturo Bandini diante de sua máquina de escrever determinado a vencer". Ok. Espere a primavera, Bandini. Jane Austen, MR DARCY. Meu sonho de consumo.

Não tenho medo do ridículo e de pagar o preço. Inteligência dá preguiça, conversas a meia noite, só sobre; Nip/Tuck, E O Vento Levou, e aquele vestido. Quem não me conhece, que se foda. Compre o livro pela capa. Nada mais chato que um gênio. É preciso ter: bom senso, humor, sarcasmo, Rivotril. Humor não é alegria!
Como já disse sou compulsiva, obsessiva, latina, drama queen. Também sou prolixa, insone, alopata e asmática. Mas não conte a meu médico sobre meus gatos. Entre o Simonal e a asma escolho o Simonal e fico com a asma de brinde. O médico que se questione, por que não melhoro. Tenho muitas roupas e me preocupo com coisas banais, como a unha que lascou, infelizmente tenho pouca auto confiança.

Sou distraída, gosto da noite e sempre me meto em alguma confusão. Quando bebo faço merda, é a vida. Tenho por hábito falar e escrever besteiras. Sou viciada em palavras, leitura e jujubas. Vejo novela, gosto de rock, punk e música pop. Tenho pouca grana, gasto o que tenho com luxo. Vou à Lapa de All Star, nem que seja só pra reclamar da falta de glamour. Mudo de idéia, não tenho certezas, conto calorias, me contradigo, falo palavrão.

Das coisas que me irritam: Sexy and the City. Aonde já se viu, um bando de mulher de 40 poucos anos (elas dizem 30), que se reúnem pra conversar sobre homens, como se ainda estivesse no segundo grau? São todas umas malas, que em seis temporadas nunca conversaram sobre um livro ou filme. Para piorar, a única bem resolvida e que não é mala, é promíscua. O que é isso? Sacanagem? "Hummm... Aquela ali, não pensa em homem o tempo todo... Ah! Deve pensar em sexo o tempo todo". Francamente.
Mas claro que vi todos os episódios. Afinal, adoro New York e fashions designers. Em que outro lugar eu veria um Manollo Blanik por episódio ou roupas Vera Yang ?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

OITO

Lá fui eu pra faculdade que resolvi cursar depois de velha. No caminho comprei a Quem. Graças à Deus, me toquei a tempo que não era de bom tom entrar numa faculdade de artes com uma revista de celebridades na mão. E enfiei a bicha na bolsa. Cheguei na sala lotada, atrasada como sempre e fiquei em pé olhando. A professora falou: "Você está procurando lugar pra sentar? Não tem".
Na verdade, estava procurando o ar condicionado, que também não tem. Porém sentar me pareceu uma boa idéia. Aceitei a sugestão e saí procurando uma carteira pela faculdade a fora. Que ótimo. Entrei numa sala, expliquei a situação e perguntei se não tinha pra canhoto. Pergunta que pra mim faz muito sentido. Mas numa faculdade pública, desconfio que fiz papel de maluca. Digo isso, pela cara lá do responsável.
Voltei pra sala lotadíssima e não entendi. No segundo semestre, só abriram 10 vagas. Da onde saiu esse povo todo? Pelo que percebi, parece que todos os alunos da faculdade fazem essa aula, incluindo aí os repetentes e, se duvidar, alguém da Medicina.
Então lá estava eu, no lugar que consegui quase fora da sala, quando entra uma galera do C.A. Centro Acadêmico. Que preguiça. O pessoal do C.A. disse coisas muito úteis e agradáveis. Entre elas, que os bebedouros estão desligados por causa da gripe suína. Mas de qualquer forma não tem filtro neles. E a água dos bebedouros é a mesma da privada. Muito legal. Também foi dito que tinha ratazana na cozinha do refeitório.
Aí eu parei de prestar atenção, porque não tenho mesmo esse hábito de comer. Aqui e alí, ouvi um papo sobre não jogar papel no chão e evitar pegar o elevador. Não saquei direito, parece que tem que economizar energia na faculdade. Sou super a favor de qualquer medida que me mantenha magra, lógico. Só que sempre pensei que a conta de luz das faculdades do Brasil, estavam incluídas nos impostos que a gente paga. Moro no alto de uma montanha, desço e subo todo dia a pé. O "Climb Every Mountain" é tão brabo que chega a entupir o ouvido. Mesmo assim, querem que eu chegue na faculdade e ainda suba a escada até o quarto andar? Minhas aulas são do quarto andar pra cima e tenho asma. Não sei se vai dar certo isso não... Eu não ví enfermaria com nebulizador lá.
Também foi citado um panelaço que costumam fazer sei lá pra que. Tudo bem que sou argentina, mas existe um limite. Eu não saio por aí pedindo pra brasileiro sambar. Então por favor, não me peçam pra bater panela que é muito clichê. Só se for por um ar condicionado. Por falar em clichê, depois que o pessoal do Centro Acadêmico foi embora, fiquei esperando o Wladimir Palmeira chegar. Juro que era pra ser uma piada, mas não é que vai mesmo ter um encontro com ele? Estava escrito no mural. Eu vou. Quero saber como faz pra conseguir um split.

Quando acabou a aula, já levantei com a carteira na mão pra levar pra outra sala. Viu como eu pego rápido as coisas? Daqui a pouco começo a trazer a carteira de casa de preferência a pra canhoto.
Estava no meio do caminho quando descubro que:
A) Não vai ter mais aula (oba.)
B) Vai ter trote.
-Sylvia você não vai participar do trote? Me perguntou uma veterana mais nova que eu, pintada de cacique.
-Não.
-Sylvia você não quer confraternizar?
- Não.
Amore, eu vim aqui pra estudar. Isso aqui pra mim é trabalho. Se eu estivesse afim de pedir esmola no sinal, não precisava ter feito vestibular. Ok. Fui ao banheiro, lá chegando dei de cara com: falta de sabonete e um papel higiênico reciclado, cheio de buracos, igual a um pedaço de renda portuguesa. Ave Maria, estou frequentando um Ciep.

Somando essa cena, com meu inconformismo diante da falta de ar condicionado... Desde a primeira série, nunca frequentei uma instituição de ensino sem ar. Essa falta não entra na minha cabeça. Eu levei casaco na bolsa. Sala de aula e ar condicionado até hoje pra mim eram uma fórmula matemática. Lá não tem nem ventilador!
No total, o resultado da soma foi: será que ainda dá tempo de fazer matrícula numa faculdade particular?
Pra piorar tenho aula de folclore brasileiro. Mula sem cabeça não rola. Nesse dia o Ipod vai gritar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

SETE

O carteiro do meu prédio é um sujeito muito revoltado. Ele vem entregar as cartas pensando: "Cambada de filho da puta, que não usa débito automático e recebe correspondência a essa altura do campeonato. Não conhecem a internet, porra?"
Coitadinho, o cara pensou que fosse poder curtir o emprego público dele em paz. Mas não! Tem que colocar aquela roupinha, subir ladeira e fazer a entrega. Ele nem se dá ao trabalho de passar o pacote, amarrado com um barbante, por baixo do portão. Deixa do lado de fora do prédio mesmo. Literalmente na calçada e de preferência na chuva.
Outro dia, eu vi. Uma vizinha recebeu um cartão postal. Sabe aquela parada retangular, com uma foto de um lado, espaço pra um selo e o endereço do destinatário no outro? Com três linhas aonde as pessoas escrevem assim: "Nova York é o máximo! Estamos nos divertindo muito sem você! Morra de inveja, beijos!" Juro por Deus. Nesse dia o carteiro deve ter se desesperado. Até eu me assustei.
Antigamente, a gente ia passar uma semana na Disney pela Grantur, mesmo assim comprava um monte de cartão, escrevia três linhas e saía mandando pra galera. Hoje em dia, ainda bem que existe o Orkut. A pessoa pega a pouca grana que tem, paga uma fortuna num cyber, descarrega as 384 fotos da máquina e pronto. Já resolveu o problema do exibicionismo. Como time is money, não dá tempo de selecionar as fotos e a pessoa nem sabe direito o que está enviando. O que é ótimo. Orkut de mais de 300 fotos, Sylvia recomenda. Sempre tem alguma merda que passou despercebida.

Para não dizer que não falei de flores, nem de nenhuma futilidade, já perdi 2.400 dos 5 quilos que pretendo emagrecer. Por causa disso, achei que podia usar uma calça skinny numa pré estréia que fui. No maldito cinema, tinha um espelho enorme e eu aproveitei pra fazer o que devia ter feito em casa. Olhar pra trás. Jesus! A minha bunda estava enorme naquela calça. Quase morri de vergonha. Pensei seriamente em ir pra casa. Mas eu queria ver o filme, então me encostei na parede mais próxima enquanto não começava a sessão. Depois do filme tinha uma festa que eu não sabia. Bateu aquela dúvida terrível... Será que eu vou? Com essa bunda enorme? Aí me lembrei, que graças à Deus a gente sempre pode contar com a cafonice do brasileiro nessas horas. Portanto, eu não ia ferir o senso estético de ninguém além do meu.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

SEIS

Vem cá gente, o milagre econômico não foi na ditadura militar? Como, diabos, tem tanta gente por ai desfilando com sapato Louboutin? Andará a mulherada pintando de vermelho a sola do sapato Paquetá?

Outro dia estava desocupada como sempre, então fui visitar meu amigo Saint Laurent. Estava tudo indo muito bem até que, dou de cara com uma intervenção que a galera da exposição fez num modelito YSL. Era um top estilo faixa feito com sementes. Para prender a peça no manequim, o povo que montou a exposição acrescentou um par de alças de silicone ao top. Jesus! Eu só não morri porque tinha um compromisso. Coitadinho do Yves lá no Père-Lachaise (aonde imagino que esteja enterrado), se revirando no túmulo.
Além de assassinarem o modelito, no caso um Saint Laurent, olha que perigo: a mulherada dá de cara com aquilo e comenta: " Tá vendo Adalgisa, falam que a gente não pode usar alça de silicone, olha ai o Saint Laurent". Francamente. Haute Couture é mais que bom gosto, tem a ver com classe.

Por falar em CCBB, Centro Cultural Banco do Brasil, para os desatualizados. Não é por nada não, mas tinha que ter um horário separado para as excursões de colégio. Primeiro, se eu quisesse frequentar museu com criança, tinha filho. Segundo que fica difícil admirar o Kandínski e o Chagall, com um monte de adolescente gritando: "Caraca! Um monte de rabisco! Olha aquele, feio pra caraca!". Enquanto isso, meu celular toca e o segurança se materializa instantaneamente do meu lado. Me poupe. No meu universo, a gente sabe que não se fala ao celular em museu, mas dá pra esperar eu avisar que ligo depois? E por que o senhor não manda essa rapaziada parar de gritar? Um monte de caraca, incomoda tanto quanto um toque de celular.

Estou de regime, e como vocês podem ver de excelente humor. Faz sete dias que não como jujuba, Twix e Charge. Tirar esses elementos da minha vida é extremamente danoso. Principalmente pra quem tem que me aturar. É sempre assim, arrumo um namorado, engordo cinco quilos. Termino e vou direto pro medico, que diz: "Tudo bem Sylvia? Veio preparar o corpinho para o próximo?" Não querido, vim pra ficar bem comigo mesma. Arre!
Essa semana recebi uma locomotiva social de frente, um misto de instabilidade emocional com despedida. Se tem uma coisa que eu aprendí na vida, é que a melhor maneira de seguir uma dieta é ficar em casa. Continuar solteira também ajuda, mas... Bom, vamos ver quantos dias eu aguento sem ir a uma festa.

domingo, 19 de julho de 2009

CINCO

Minha última. Fui ao show de um amigo, que canta samba e MPB, na Lapa. Enfim, vestí uma calça, um All Star, uma camiseta que gosto, uma jaqueta preta que sempre uso e pronto. Tudo muito simplesinho. Chego lá, o povo de sandália de couro está me olhando estranho. Estou curtindo o show. Sabe como é, esses lances de folclore tipo samba, a gente acaba assimilando. Todo mundo tem um repertório lá no fundo do HD interno.

Mas lá estou eu e o povo realmente me olhando estranho. Já não tem como ignorar. Uma amiga me dá o toque: "Sylvia olha pra sua roupa". Hummm... Estou vestindo uma calça preta, um All Star black, uma camiseta dos Ramones e na jaqueta está escrito Cavallera Forever Punk. Cruzes, o coió gritou. Nem quero pensar no que aconteceria se estivesse vestindo Herchcovitch.
Tenha paciência, a gente não pode nem se distrair? Que povo preconceituoso, agora eu tenho que andar vestida à caráter? Visto o que me dá na telha, eu heim!
O figurino é importante, sempre soube disso. Mas também sempre ouví falar que o povo democrático que frequenta alguns lugares da Lapa não liga pra isso. Vestem qualquer coisa contando que não seja diferente, que não fuja do padrão sandália e bata. Me disseram que esse povo não liga pra futilidades e tampouco faz carão. Imagina se um punk, um rocker, cluber, emo (aqui no Rio não tem disso não), drag queen ou qualquer outra turma extravagante, não uso o termo tribo, porque tribo pra mim é Tupinambá, Aimoré aquela galera que é tema do José de Alencar.
Mas imagina se alguém dessa turma vai receber mal uma pessoa vestida de um jeito diferente deles? A menos é claro que role uma alça de silicone. Meu senso estético por mais ferido que esteja pela sandália e a falta de manicure, não altera minha educação. Já uma camisetinha dos Ramones básica causa tanto auê?
Me trataram como se eu fosse um hell´s angels de Oakland. Aqueles que mataram um cara no meio do show dos Rolling Stones em Altamont. Tava todo mundo esperando eu sacar o soco inglês. Até parece que eu ia arriscar a quebrar uma unha. Tem dó, fui ao show do meu amigo, nem me lembrei o estilo musical. E afinal por que fingir o que não é? Por que não admitir logo que reparam na roupa dos outros e pronto. Não fica com discurso politizado criticando quem gosta de moda, chamando de fútil. Compra logo uma Vogue e relaxa. Se não der, geralmente os jornais tem um caderno de moda, já dá pra ter uma noção.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

QUATRO

Me sinto um anti Peter Pan. Por fora, essa impulsividade, jovialidade. Esse não sei o quê, que leva todo mundo a me tratar como criança, a não confiar tarefas sérias a mim. A não me levar à sério. Por me faltar a postura adulta, o scarpin, a pantalona de crepe (ave!).
Mas eu, aqui com meu bico, minha birra, jujubas e pulinhos no meu vestido de bolinhas, com meu All Star azul, porque moro em Laranjeiras e adoro um clichê. Eu que choro porque acabou o iogurte (na tpm vale tudo), me sinto velhíssima.
Uma senhora idosa cansada das pessoas, com muita preguiça. Se por fora devoro jujubas, por dentro a idade é dobrada. O maior sinal da idade, vem quando morro de rir com o último Indiana Jones, o velho com medo de cobra. Rio sozinha enquanto me olham estupefatos. Meu avó também ria de coisas bobas, coisas que só crianças e velhos riam. Coisas que adultos não acham graça.
Pois eu, a senhora velhíssima que sou, pensava morar em Londres. Dizia: "Sylvia, você vai aprender a ser sábia na Europa". Ir a um lugar aonde ninguém me conheça e eu não conheça ninguém. Trabalhar de garçonete, cantar bossa nova desafinada, morar sozinha num apartamentinho e só. Aqui eu cansei. Porque mudo de ideia toda hora e enquanto fazia meus planos, sonhava com passárgada, você apareceu.
Já queria trabalhar numa livraria, terminar a faculdade, que entrei depois de velha, ter uma estabilidade pagar um aluguel, dividir as despesas. Enfrentar o Rio, ser artista no Rio junto com você. Até ter um filho. Novos sonhos, mas paciência tudo em troca de um amor. Ser herói por um dia. Viva o David Bowie. Mas você foi embora e tudo acabou, o sonho, os Beatles, o equilíbrio.
Senhoras e senhores voltei! Serei junkie, beberei, cairei e assim como Sylvia, a Plath. Devorarei os homens como o ar.

TRÊS

- Que merda, pensei, enquanto me dirigia histericamente ao laboratório às cinco da manhã.
Exame de urina marcado pra às seis da manhã. Por que meu Deus? Porque pertenço ao grupo de mulheres nervosas que resolveram abarrotar os laboratórios depois que a modelo morreu. O caso foi no fim do ano passado, tem outras nuances mas basicamente a moça tinha uma infecção urinária que virou algo incontrolável. Ela teve mãos e pés amputados.
Com Boxing Helena na cabeça, aquele filme em que o Julian Sands vai amputando os membros da amada até colocá-lá numa caixa, e também pensando no leve incômodo que sinto ao urinar desde novembro, resolví fazer alguma coisa. Mesmo que levada pelo mau gosto.
No caminho de Laranjeiras até ao laboratório em Botafogo, tem muita coisa pra pensar, inclusive nessa péssima ideia de vir a pé. No meio do caminho tem um Am/Pm e lá vou eu comprar um Twix. Já que estou aqui, melhor comprar também um suco de pêssego. Muito estranho esse exame, estou levando mijo de casa, e vou ter que produzir outro na hora. Esqueci de perguntar por que.
É um bom momento pra me solidarizar com os atletas e o antidoping. Por falar nisso, terei eu feito algo suspeito no fim de semana? Domingo não, sábado não lembro, sexta foi há muito tempo. Foda-se. Tá tocando Beastie Boys no meu ouvido: "you gotta fight for your right to party!!" Amém.
Estou longe de ser atleta, essa vai ser minha única oportunidade de me sentir como um. Será que a enfermeira vai ficar olhando? A médica deve querer saber se a urina é minha mesmo. Ainda bem que estou de calcinha nova.
- Bom dia para a recepcionista. - Bom dia, para o segurança lá vou eu. Sexto andar. Elevador. Credo, elevador em hospital, nunca mais vai ser a mesma coisa desde Grey´s Anatomy. Tenho vontade de apertar a emergência, fazer alguma revelação, pedir desculpas a alguém ou dizer que amo. Com a minha sorte vou dar de cara com um tipo George. Na descida Deus, mande o Patrick Dempsey sim? Que evolução desde Namorada de Aluguel... Já que estou pedindo, por favor, que o mijo não tenha derramado na minha bolsa. Ai meu saco.

DOIS

Cá estou eu pensando em relacionamento. Pior, com vontade de falar sobre isso. Credo.
Deve ser porque o meu acabou. Sylvia, disse eu: "Você prometeu que não viria a cena pra bancar a mulherzinha". Vamos combinar, nada mais chato que assunto de mulherzinha, dúvidas de mulherzinha... Caralho.
Logo eu, que tanto critiquei Um Teto Todo Seu. Ok, vamos pensar nos desatualizados. Um Teto Todo Seu, é um ensaio da Virgínia Woolf, sobre mulheres e literatura. No livro Mrs. Woolf diferencia a literatura feminina da masculina e eu discordo plenamente. Livro é livro porra. Escritor é escritor e tanto faz se é homem, mulher, criança (Deus me livre livro escrito por criança) ou gay. Porque tem isso, quem nunca leu uma resenha que começava assim? " O escritor homossexual Gore Vidal etc, etc." Ok (de novo) isso não é um tratado sobre literatura.
Não queria falar sobre relacionamento? Então. Lá estava eu sozinha no apartamento do meu (ex) namorado, que gosta de samba, nunca ouviu falar em Ramones, pensa que New York Dolls é um modelo de Barbie e dança forró (!!!), peraí que eu vou tomar um Rivotril.
Atração inexplicável, deve ser o olho azul (dele, o meu é verde). Se eu aturasse Legião Urbana saía cantando Eduardo e Monica. Cruzes.
Mas lá estava eu nervosa/agitada e angustiada, por isso fui pra lá. Não quero falar sobre os motivos desses sentimentos, mas vamos ao resultado: Lá estava eu, agitada já disse, sozinha olhando o apartamento. Pilhas e mais pilhas de louça suja. Montanhas de roupa pra passar espalhadas pelo sofá, pelos cantos e eu lá. Agitada.
Tentei ignorar. Pensei: "Não faça isso". Cadê o feminismo? Foi mais forte do que eu. Num instante, já estava dobrando as roupas. A voz dentro de mim repetia: "Não faça isso". Mas eu só vou dobrar, para ter onde sentar. Pelo mesmo motivo fiz a cama. E a voz... Acabei tirando o pó dos móveis e varrendo a casa. Quanto a louça, fui salva pelo gongo. O bofe chegou.
Quando estou angustiada, pegar no pesado me faz bem, mas não é sábio sair fazendo faxina no apartamento do namorado. Porque ou você explica que tem transtorno obsessivo compulsivo e queima o filme. Ou deixa ele pensar que você quer casar e queima o filme. Só sei que eu ia trabalhando e apesar de ir me acalmando, fui ficando tensa por esses motivos. Não se deve fazer faxina no apê. do namorado simples assim.

UM

Muito prazer meu nome é Sylvia. Quando nos conhecermos melhor, direi meu sobrenome. Sou carioca, obsessiva, compulsiva. Mais exatamente aquilo que chamam de Drama Queen. Vivo no meu mundinho, tal como Nelson Rodrigues, a partir do Méier sinto saudades do Brasil. Meu Brasil vai de São Conrado a Tijuca, dois lugares onde nunca vou. Quando a gente escreve, é sempre bom localizar geograficamente o leitor. Aprendi isso com Guimarães Rosa. Para os mais distraídos, isso é uma piada.
Faço parte daquele tipo de gente que odeia tudo, mas não vive sem (o que odeia), tenho angústias e bem vindo ao clichê. Também tenho Rivotril, que está na moda e eu sou muito antenada. Não se engane com meu tom arrogante e cheio de si, sou extremamente atolada. Fiz teste para Os Três Patetas, não deu. Eles já tinham o Curly. Foi aí que descobri a escova progressiva e desde então ando levando meu cérebro para tomar doses de formol. É bom.
Gosto de dizer que desconfio. "Desconfio de gente feliz", é meu novo lema. Tudo blefe, não sou tão esperta. Então ficamos assim: eu desconfio, mas não sigo meus instintos. Sempre me ferro por isso, a cabeça não é o fato, já dizia Shakespeare.
O tema aqui sou eu, eu e a minha vida. Não gosto de gente egocêntrica, mas a gente precisa focar no que conhece. Não conheço ninguém melhor do que a mim mesma e acredite, isso não é uma vantagem.
Aos 14 anos entrei numa boate e nunca mais saí, gosto de rock e punk. Terminei um relacionamento e ando numa fase (mais) junkie. O que me intriga, é que mesmo assim, não perdi uma grama do meu peso. Outro dia bebí, caí, quebrei o dente, machuquei o joelho. Mas depois que me levantei, me senti muito mais tranquila. Foi melhor que vomitar. O gosto de sangue na boca realmente me deu uma paz. Sabe, depois de umas e outras, eu preciso ficar perto de gente concreta. Não me lembro quem foi o João Cabral, mas quando acordei em casa, o dente estava na minha bolsa. Pena que não serviu.
Bom, eu sou uma moça e parece que estou condenada a coisas fúteis e triviais como depilação, manicure e fazer ginástica (ave!). Por isso, não esperem muito de mim.