quinta-feira, 1 de outubro de 2009

DOZE

Antigamente as pessoas eram mal educadas e pretenciosas. Mas pelo menos se interessavam pelo trabalho dos outros, e liam. Hoje em dia as pessoas são mal educadas, pretenciosas, iletradas e fechadas no seu mundinho. Quer dizer que só se interessam pelo trabalho do pessoal da sua turma. E como são iletradas, elegem como deus, alguém que estudou um pouco mais e reciclou as idéias dos outros.

A arte virou um caô só. Fico pasma com isso, principalmente porque quanto mais eu leio, menos dou valor ao que penso, menos me acho genial. Eu leio e penso: "putz, nunca vou fazer melhor. Vou desistir" As palavras dos outros me inspiram a desistir. Por isso chego a admirar quem consegue copiar ou reciclar alguma idéia e pronto, estar moda.

Aqui no Rio de Janeiro é muito importante isso, estar na moda, ser quente. É isso que faz alguém prestar atenção no seu trabalho, não o contrário. Porque se não te respeitam socialmente, não vão perder tempo em saber qual é a tua. Existe também a lei do fazer carreira em festa. Não tenho esse talento. geralmente numa festa, só me preocupo em não beber demais e quebrar o dente. Acaba não dando tempo para um lob básico, principalmente se a música for boa.

Também me preocupo em não ser uma pessoa magoada, isso é importante. Cada um tem o seu caminho e, vamos lá. Por isso fui estudar. Estudando e fazendo carreira acadêmica, não precisarei me preocupar em fazer sucesso socialmente pra trabalhar, nem em ter amigos da moda, essas coisas. Eu estudo pra poder ser quem eu sou, falar o que eu penso, não depender de ninguém. Bom, tem o pessoal que paga as minha contas, mas não quero pensar nisso agora.

Infelizmente, a sensibilidade é algo que não me governa, por isso por mais que eu tente, não consigo dizer coisas sensíveis. Mas não sou agressiva. Detesto gente que te alfineta a toa. Esse pessoal da agressividade gratuita, sabe? Nessas ocasiões eu me fecho. Não por falta de resposta, mas por preguiça de aguentar a consequência da resposta que pensei. Porque nunca sou sutil. Como bater boca é um saco e geralmente demora muito, acho melhor calar.

Outro dia, pensei que estava bem. Tava com uns amigos falando besteira todo mundo rindo. Até que uma moça resolveu tentar me agredir a troco de nada. Pelo menos foi o que ela achou que estava fazendo. Não entendi muito bem. Eu perguntei onde era o banheiro, e ela me mandou ir num lugar que não era. E daí? Não sei por quê, quando voltei tava todo mundo rindo. Que bobagem, o que é que tem demais isso? Andar emagrece.

Na volta pra casa, tentei entender a graça em tentar fazer uma pessoa de palhaço a essa altura do campeonato. Já que o ginásio acabou faz tempo. Vamos analisar a minha ida ao banheiro. Eu estava conversando, perguntei onde era o banheiro e uma moça nada genial me disse que era num lugar errado. Ok. Pensei, bom estava todo mundo se divertindo, ela não tinha senso de humor, resolveu chamar atenção pra sí da maneira clássica, sacaneando alguém. Isso serve pra muita coisa hoje em dia, até na arte andam fazendo as pessoas de palhaço. Quem não tem talento faz isso com o público.

É também isso que as pessoas fazem quando se sentem ameaçadas com a inteligência alheia. Eu não me sinto nunca assim. Primeiro porque estou longe de ser um gênio, graças à Deus. Segundo porque inteligência, eu quero é sugar, ser pentelha perguntar. Terceiro porque, se por um acaso eu achar que devo fazer alguma coisa pra chamar atenção, então posso considerar que a inteligência alheia me inspira. Mas eu não gosto desse tipo de competição. Quando eu vejo alguém brilhando, eu observo. E se for caô, eu vejo até onde vai, adoro observar isso. Se for talento, eu babo mesmo.