domingo, 19 de julho de 2009

CINCO

Minha última. Fui ao show de um amigo, que canta samba e MPB, na Lapa. Enfim, vestí uma calça, um All Star, uma camiseta que gosto, uma jaqueta preta que sempre uso e pronto. Tudo muito simplesinho. Chego lá, o povo de sandália de couro está me olhando estranho. Estou curtindo o show. Sabe como é, esses lances de folclore tipo samba, a gente acaba assimilando. Todo mundo tem um repertório lá no fundo do HD interno.

Mas lá estou eu e o povo realmente me olhando estranho. Já não tem como ignorar. Uma amiga me dá o toque: "Sylvia olha pra sua roupa". Hummm... Estou vestindo uma calça preta, um All Star black, uma camiseta dos Ramones e na jaqueta está escrito Cavallera Forever Punk. Cruzes, o coió gritou. Nem quero pensar no que aconteceria se estivesse vestindo Herchcovitch.
Tenha paciência, a gente não pode nem se distrair? Que povo preconceituoso, agora eu tenho que andar vestida à caráter? Visto o que me dá na telha, eu heim!
O figurino é importante, sempre soube disso. Mas também sempre ouví falar que o povo democrático que frequenta alguns lugares da Lapa não liga pra isso. Vestem qualquer coisa contando que não seja diferente, que não fuja do padrão sandália e bata. Me disseram que esse povo não liga pra futilidades e tampouco faz carão. Imagina se um punk, um rocker, cluber, emo (aqui no Rio não tem disso não), drag queen ou qualquer outra turma extravagante, não uso o termo tribo, porque tribo pra mim é Tupinambá, Aimoré aquela galera que é tema do José de Alencar.
Mas imagina se alguém dessa turma vai receber mal uma pessoa vestida de um jeito diferente deles? A menos é claro que role uma alça de silicone. Meu senso estético por mais ferido que esteja pela sandália e a falta de manicure, não altera minha educação. Já uma camisetinha dos Ramones básica causa tanto auê?
Me trataram como se eu fosse um hell´s angels de Oakland. Aqueles que mataram um cara no meio do show dos Rolling Stones em Altamont. Tava todo mundo esperando eu sacar o soco inglês. Até parece que eu ia arriscar a quebrar uma unha. Tem dó, fui ao show do meu amigo, nem me lembrei o estilo musical. E afinal por que fingir o que não é? Por que não admitir logo que reparam na roupa dos outros e pronto. Não fica com discurso politizado criticando quem gosta de moda, chamando de fútil. Compra logo uma Vogue e relaxa. Se não der, geralmente os jornais tem um caderno de moda, já dá pra ter uma noção.